Histórias do Douro: factos e ficção
18 Janeiro 2020
Histórias do Douro: factos e ficção
Marquês de Pombal
O Douro é muitas vezes considerado a primeira região vinícola demarcada do mundo, embora Chianti, na Itália, e Tokay, na Hungria, para alguns possam ter chegado lá primeiro, no início das décadas do século XVIII. O que não é contestado, contudo, é que a demarcação do Douro, em 1756, criou uma área geográfica extremamente precisa para a produção de vinho do Porto.
O homem por detrás disto tudo, o autocrático Marquês de Pombal, teve, no ano anterior, um papel líder na supervisão da reação de Lisboa a um dos piores terremotos da Europa. Para salvaguardar o comércio do vinho do Porto e melhorar a sua organização, Pombal tinha 335 pilares de pedra montados para delinear uma região protegida. Um terço desses marcos pombalinos ainda estão de pé. Foi estabelecido um limite para a colocação de novas vinhas, com cotas de produção restritas e preços fixos, para proteger o bem-estar financeiro dos produtores de uvas e incentivar a gestão eficiente da vinha. Com a região demarcada, as receitas vindas do vinho do Porto poderiam contribuir para a reconstrução da economia do país.
O energético Marquês de Pombal também criou a 'Douro Wine Company', que presidiu um sistema de pontos para a classificação das vinhas (de A a F). O primeiro de seu tipo no mundo, este ainda hoje existe.
Barão Joseph James Forrester
O empreendedor Joseph James Forrester foi outro inovador na história do Douro. Nascido em Hull, de origem escocesa, Forrester chegou ao Porto em 1831 com 21 anos para trabalhar para o seu tio James Forrester, sócio da empresa de transportes Offley, Forrester e Weber.
Forrester permaneceria em Portugal pelo resto da sua vida e, na época, foi um dos membros mais influentes e mais queridos da comunidade inglesa do vinho do Porto. Considerado como o "Protetor do Douro", Forrester foi um defensor ativo dos interesses dos vinicultores portugueses. Em 1844, publicou anonimamente um panfleto polémico "A Word or Two About Port Wine'', que ousou atacar a Douro Wine Company pelo seu controlo monopolista sobre a indústria do vinho do Porto, comentando que os melhores vinhos do Douro eram 'naturais', ou seja, digamos infeliz, um ponto de vista extremamente independente naqueles dias.
Forrester empregou o seu profundo conhecimento da região para criar os primeiros mapas do rio Douro e região vinícola. Estes mapas, objetos de grande beleza e valor considerável, ainda podem ser encontrados nas paredes das quintas mais prestigiadas do Douro. Em apreciação a este épico projeto cartográfico, a monarquia portuguesa intitulou Forrester como Barão.
Este promoveu o conceito de terroir nos seus escritos sobre a indústria do vinho e da viticultura e mapeando o Douro, o Barão Forrester possuía vinhas na Quinta da Boavista no Cima Corgo (hoje propriedade da Lima & Smith). Numa recente visita à Boavista, Tony Smith descreveu Forrester como um "homem renascentista".
Na última década da sua vida, Forrester pintou desenhos do rio Douro e dos seus arredores montanhosos e também tirou algumas fotografias antigas. Alguns desses desenhos estão na recepção do Cockburn's Port Wine Lodge, em Vila Nova de Gaia. Um homem rico através da expedição no Porto, este montou um luxuoso barco rabelo, tripulado por funcionários elegantes, nos quais entretinha os seus amigos.
Uma sua amiga foi a viúva e com uma personalidade poderosa, a Dona Antónia Ferreira, proprietária da grande Quinta do Vesúvio, hoje uma jóia da coroa da Symington Family Estates. Algumas pessoas no Douro afirmam que os dois tiveram um relacionamento, outras que Forrester era apenas "consultor financeiro" de Dona Antónia. Em 1861, o barco que transportava os dois amigos afundou-se no desfiladeiro de Cachão da Valeria. Forrester usava sempre um cinto com dinheiro e, com o peso do dinheiro em ouro que carregava, afogou-se. Dona Antónia sobreviveu, mantida à tona pela saia de crinolina.
Eça de Queiros
Frequentemente comparado a Dickens e Balzac, e até Tolstoi, Eça de Queiros foi o maior romancista de Portugal do século XIX. Depois de quinze anos como funcionário do consulado português na Inglaterra, onde comentou sobre "a maneira indecente de cozinhar legumes", Queirós, em 1888, foi nomeado cônsul em Paris. Foi aqui que escreveu um dos seus romances mais cativantes, The City and the Mountains, publicado em 1895.
A cidade e as montanhas abrem em Paris. O herói, Jacinto, mora numa mansão nos Champs Elysee, cercado por todos os aparelhos de última geração, mas entediado pela existência vazia (um mal-estar familiar do século XXI!). Convocado ao Douro pelo seu gerente imobiliário, Jacinto gradualmente descarta o tédio dessa vida sofisticada pelos simples prazeres rurais do Douro, encontrando propósito numa nova conexão com a população local e lançando-se em projetos para melhorar a sua vida.
The author, James Mayor, is the founder of Grape Discoveries, a boutique wine tourism business: www.grapediscoveries.com