Doiro Sublimado
30 July 2019
Muito se escreve e descreve sobre o Rio Douro, a região demarcada do vale do Douro, o Douro Património da Humanidade e, sem dúvida alguma, hoje o Douro e toda a sua região estão na moda.
Contudo, perdoem-nos os modernos pensadores e amantes da região, mas ainda não encontramos quem o descreva tão bem quanto Miguel Torga o fez no Douro que é doiro sublimado:
“O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser á força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a refletir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A Beleza absoluta.”
Ninguém descreveu tão bem e de forma tão sintética a conjugação perfeita do rio que rasgou serras, a força dos homens da terra que esculpiram socalcos e deram vida á vinha que hoje é de todos! Esta é a vida, a cor, o horizonte, o silêncio, mas, também a força que o Douro e as suas gentes têm para lhe transmitir. A antítese da força das gentes e tranquilidade do Rio, a serenidade da paisagem e o silêncio dos montes são o mote que hoje lhe deixamos.