Cinco pontos que o consumidor de vinho precisa de saber.
3 Setembro 2019
Prepare-se para a mudança climática: cinco pontos que o consumidor de vinho precisa de saber.
James Mayor, da Grape Discoveries, faz um pequeno balanço sobre a Climate Change Leadership, que aconteceu na cidade do Porto.
Em Julho de 2018, Barack Obama, o ex-presidente dos EUA, deslocou-se ao Porto para abordar o ‘The Porto Protocol’, uma iniciativa de mitigação das mudanças climáticas. Obama afirmou que "temos que reconhecer que há trade-offs em como vivemos".
Participei recentemente na Climate Change Leadership - Soluções para a Indústria do Vinho, um evento organizado pela Taylor`s Port. Contou com participantes de trinta países diferentes, incluindo produtores de vinho, climatologistas, especialistas em sustentabilidade e jornalistas do sector, como eu. O evento foi uma enorme degustação de informações actualizadas sobre como as mudanças climáticas estão a afectar a produção do vinho e quais as soluções que estão disponíveis para mitigar esta mudança.
Ouvimos relatos de incidentes climáticos nas regiões vinícolas do Vale do Napa, nos EUA, e até mesmo na região do Douro, em Portugal. Os líderes da indústria vínica presentes na conferência destacaram os seguintes cinco pontos que poderão afectar os consumidores à medida que o nosso clima continua a mudar:
O mapa mundo do vinho em mudança
Já reparou como o mapa da produção mundial de vinho está em mudança? Apenas há alguns anos atrás, provavelmente ter-se-ia rido se eu lhe tivesse recomendado um vinho no estilo champanhe produzido na Inglaterra. Actualmente, o consumidor pode escolher entre uma selecção cada vez maior de excelentes vinhos espumantes, alguns dos quais têm sido os primeiros classificados em provas cegas que incluem champanhe produzido na região de Champanhe. Hoje, o vinho está a ser produzido em todos os cinquenta e dois estados americanos, já para não falar da Suécia! O Chile, há muito considerado um país de vinhos de qualidade média, também começa agora a produzir alguns vinhos de alta qualidade, como o Montes Folly.
Como consequência do aquecimento global, a adequação para a plantação de vinhas está a mudar completamente, a selecção dos locais torna-se uma questão cada vez mais crítica. Por vezes, a solução passa por plantar numa altitude superior, onde as temperaturas serão desta forma mais baixas.
Consumidores de vinho mais bem informados
Juntamente com as mudanças climáticas estamos a experienciar mudanças no consumo de vinho. Os milenares geralmente estão mais bem informados do que as gerações anteriores e têm sede de conhecimento. Estes também são mais preocupados com o clima e a sua saúde, bem como em manter uma dieta sustentável. Cerca de 40% dos milenares estão dispostos a pagar 40% mais por um produto da mesma qualidade, e esta mesma geração de consumidores também mostra uma vontade renovada de se adaptar às mudanças.
O aumento inexorável dos vinhos biológicos
A produção mundial de vinho é praticamente estática, actualmente regista uma subida de apenas 0,5% ao ano. A produção de vinhos biológicos, ou cultivados organicamente, está aumentando, crescendo 15%. Colunistas e críticos encontram-se bem posicionados para exercer pressão sobre os produtores para criar mais vinhos biológicos, e eu arrisco um palpite de que em breve teremos uma selecção mais ampla deste segmento nas prateleiras das lojas de vinhos.
Gerard Bertrand, um dos principais produtores de vinhos biológicos em Languedoc, na França, fala sobre a necessidade de resistir à padronização do paladar e à importância da educação no desenvolvimento do paladar. Mike Veseth, editor do The Wine Economist afirma que "tu compras produtos que reflectem os teus valores".
Pegada hídrica do vinho
Linda Johnson-Bell, CEO do Wine and Climate Change Institute, em Oxford, Inglaterra, afirma que "o vinho precisa de tirar o casaco de vison e ser simplesmente um produto agrícola". Linda acredita que o vinho não se pode esconder atrás da sua mitologia e cultura romântica para reivindicar um status especial.
Do mesmo modo que nos acostumamos a avaliar a pegada de CO2 de uma empresa, agora também precisamos de examinar atentamente a pegada de HO2 do vinho. Um crescente número de empresas vínicas sustentáveis, como a Adega de Vargellas, propriedade da Taylor`s Port, está a reutilizar a água gasta na produção dos seus vinhos, permitindo reduções significativas no consumo geral. A água não é apenas usada para a irrigação, mas igualmente para a refrigeração, no fabrico de garrafas e embalagens.
Descarbonização de embalagens e transporte de vinhos
O cálculo da pegada de CO2 do vinho não deve, obviamente, terminar no portão da adega. Como consumidores, precisamos de considerar vários aspectos:
O peso de uma garrafa afectará a sua pegada de CO2; as garrafas mais leves são responsáveis ??por uma maior redução das emissões de CO2.
É claro que garrafas reutilizáveis ??obtêm pontos ainda mais positivos, principalmente se a eventual eliminação no final do ciclo for realizada de forma responsável. Vinho em garrafas de plástico é um NÃO definitivo!
Uma pequena quantidade de vinho é enviado para os mercados de exportação por avião, gerando enormes emissões de CO2 do transporte aéreo. Uma parcela relativamente mais pequena viaja de comboio, sendo esta a solução mais amiga do ambiente. A maior parte é enviada por via marítima, onde variáveis ??como a velocidade do motor podem afectar a pegada de CO2. O vinho a granel tem uma pegada 40% menor do que o vinho já engarrafado, pois este ocupa mais espaço.
Consumidores de vinho mais bem informados começarão a exigir e a receber mais informações nos rótulos. Em breve, veremos informações sobre as pegadas hídricas e de CO2 de um vinho, ou mesmo sobre seu índice de sustentabilidade social, podendo estas informações afectar as nossas escolhas no momento da compra.
O autor, James Mayor, é o fundador da Grape Discoveries, uma empresa boutique de enoturismo: www.grapediscoveries.com